Estilistas e Costureiros
Temos em comum os tecidos, as medidas e os corpos. Por entre alfinetes e linhas, cortes e ajustes, medidas e desmedidas, pouco muda mas tudo muda!
A costura e o estilismo podem ser tão iguais nas matérias, mas tão diferentes na gestação…
Um costureiro é um executante, como o primeiro cavaleiro à frente de um batalhão, rumo à vitória. Corta e une, aperta e alarga, faz e desfaz. Um estilista é um criador, como o tático que desafia os demais, em formações geométricas que intendem o triunfo. Sonha e conceptualiza, desfia e desafia, ata e desata.
Ser estilista é muito mais do que fazer roupa. Por definição, é alguém cuja profissão é imaginar novas formas e conteúdos. Por coração, é embrenhar-se nas artes, nas visões, nas essências e nas substâncias.
Vejo e sinto a moda como uma arte decorativa, com todas as suas nuances voláteis e tons etéreos. O que faço é inspirar a arte no meu dia-a-dia e expirá-la em projetos pincelados em papéis, fotografias e seres.
Voltando às definições, um costureiro “efetua operações de corte, confecção e acabamento na execução de artigos de vestuário”.
Aqui, reside o delinear essencial entre a costura e o design, esta fronteira entre o conceito e a consumação. O estilista embebe os fios com fantasia e o costureiro incorpora-a numa peça, pelo buraco de uma agulha. O propósito de mãos, em ambos, passa pelo ajuste e pelo sentir, mas em momentos diferentes desta relação com os elementos.
O resultado final, desde o imaginário até à concretização, reflete este propósito do sentimento. Por isso procuro, tal como sempre procurei, pactuar com a costura da emoção. As mãos executoras que sentem, ao invés de apenas fazer. As mãos sensíveis, em oposição às mãos mecânicas. As mãos que trabalham com o coração.
A banda sonora que se ouve durante as provas de uma peça é o batimento acelerado de quem vê um desejo materializar-se. E o vestir é tão confortável quanto o carinho com o qual é realizada.